quinta-feira, 15 de março de 2012

Outras considerações

Olá, queridos...

Agora sim faz uma eternidade que não escrevo neste querido blog. Já falei da doença, de como foi o meu começo, dos tantos tratamentos, da fé.
Hoje quero falar de uma coisa muito mais íntima: da maneira como a doença me pegou e dos anos que convivo com ela e de todas as reflexões que faço a este respeito.
Sempre fui a aluna número 1. Ótima aluna, ótimas notas, passando de ano no terceiro bimestre e de férias sem nenhuma preocupação em ficar de recuperação ou coisa parecida.
Sempre fui muito competitiva, adoro jogos, adoro competir e, claro, adoro ganhar...
Sempre fui muito exigente comigo mesma. Não gostava de errar, não admitia erros, não queria dar problemas pros meus pais, não queria ser um aborrecimento para eles...
Sempre tive que ser madura... desde muito cedo aprendi que a vida não é um mar de rosas e, desde pequena tive que ser forte e segurar várias barras na minha vida familiar.
Sempre quis trabalhar e comecei cedo porque não gostava da idéia de ter alguém controlando meu dinheiro, minha independência...
Tudo isso permeou minha personalidade durante anoooooos. Nunca fui muito de chorar, sempre fui a amiga que estava lá pra todas as horas, não dizia "não" para os amigos e não era de dividir meus problemas.
Até que veio o diagnóstico da esclerose múltipla... Foi um baque na minha auto estima. Como seria se eu tivesse que me tornar dependente dos outros? Como ficaria meu trabalho? Como afetaria a minha relação com o Sandro? Será que eu teria filhos? Será que afetaria minha memória, meu aprendizado?
Tive que lidar com tantas dúvidas e angústias, todas de uma só vez e aceitar que eu podia errar; que eu podia precisar dos outros e que os outros se doariam pra mim por amor; que eu poderia dizer "não" e impôr os meus limites pros amigos, pra família porque estava em jogo minha saúde e meu bem estar físico e emocional; que eu era frágil além de forte e que poderia ser frágil tanto quanto fosse necessário; que o mundo e a vida de todos continuava com ou sem a minha doença...
Aceitar foi um longo processo ( e é até hoje)... não a doença em si porque esta é uma pequena parcela do que é minha vida, mas aceitar que eu deveria me transformar com a doença e que ela era uma prova na minha vida.
Erguer a cabeça, seguir em frente, lidar cara a cara com a esclerose múltipla foi mais fácil do que implementar mudanças tão arraigadas em mim mesma.
Mas, dia após dia, tento operar estas mudanças dentro de mim e ter um olhar mais generoso comigo mesma.
Entrei na faculdade, no ano passado, e queria tirar 10. Ser aluna nota 10. Até que a fadiga muscular me pegou... aquele cansaço sem fim, corpo dolorido... tive que aceitar ser 9. Tá bom demais, né? Não para alguém como eu... Mas tomei a decisão de ser feliz, custe o que custar. Minha felicidade é 10! Meus momentos com o Sandro são 10! Meus encontros com os amigos são 10! Minha vida é 10!
O resto... bem... vou seguindo e tentando levar com suavidade...
Bjos no coração